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Alterações psiquiátricas pós COVID-19? Discussões preliminares de estudos científicos.


É de conhecimento científico e popular que apesar de sabermos quais são os sintomas mais comuns da COVID-19 e como o vírus tende a se comportar no organismo, muitas vezes ainda somos surpreendidos com os efeitos dessa doença. Possivelmente você já soube de alguém com doenças crônicas, como hipertensão arterial ou diabetes, que apresentou apenas sintomas leves da doença, assim como ouviu falar sobre alguém considerado saudável que manifestou sintomas mais graves.


Desde quando a doença foi descoberta na China em 2019, cientistas de todo o mundo têm investido em pesquisas para conhecer melhor como o vírus é formado, como ele age em nossos sistemas, quais são os sintomas mais leves e mais graves da doença, como tratar as pessoas que são infectadas e, ainda, quais sequelas podem ficar após a cura desta enfermidade.


Diversos estudos têm investigado sobre o que é chamado de “Síndrome Pós-Covid”. Os pacientes que são acometidos por essa síndrome são aqueles que, mesmo depois de curados do vírus, apresentam algum sintoma que não apresentavam antes de contraírem COVID-19. Já existem muitos estudos, especialmente internacionais, que revelaram mudanças significativas, por exemplo, na capacidade respiratória após a doença. O infectologista e pesquisador Julio Croda da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destaca que os principais sintomas da Síndrome Pós-Covid são:


● Perda de olfato e paladar,

● Dores musculares e nas articulações,

● Sensação de cansaço,

● Taquicardia, hipertensão ou hipotensão sem causa determinada e,

● Dispneia.


Apesar dos rápidos avanços das pesquisas, ainda não é possível comprovar o motivo desses sintomas persistentes em alguns pacientes, nem mesmo se as pessoas terão que conviver com eles ao longo de toda a vida. Com base nessas informações, será que apenas os sistemas respiratório, cardiovascular e muscular são afetados pela COVID-19? Você já parou para se perguntar se o nosso cérebro está imune a esse vírus?


A resposta para o questionamento acima é não. Muitos pacientes de todo o mundo apresentam sintomas neurológicos após infecção pelo vírus SARS-CoV-2, nesse sentido a ciência aponta que existe a possibilidade de haver comprometimento nas capacidades do cérebro pós-COVID-19, como para as funções executivas e para a habilidade de atenção.


Além dessas alterações neurológicas existe ainda o risco de alterações psiquiátricas. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) classifica os transtornos psiquiátricos como alterações cujas características principais são: pensamentos, percepções, emoções e comportamentos diferentes do que é considerado normal e que tendem a gerar impactos negativos no relacionamento entre as pessoas.


Nesse sentido, uma pesquisa recente publicada na importante revista científica The Lancet, constatou a existência de alterações neurológicas e transtornos psiquiátricos em pacientes pós-COVID-19. Os pesquisadores analisaram um banco de dados de saúde mundial e verificaram que 40% de mais de 200 mil pacientes acometidos pelo novo coronavírus apresentaram transtorno psicótico.


Outros estudos encontraram associação entre pacientes pós-COVID-19 e delirium (um estado de confusão mental significativa), o que reforça as teorias sobre a ação do SARS-CoV-2 no cérebro. Cientistas da área revelam que uma possível explicação para as alterações cerebrais se deve à inflamação causada no Sistema Nervoso Central, porém ainda são necessárias investigações mais robustas, até mesmo para verificar se há relação desses sintomas com os medicamentos utilizados no tratamento.


Podemos então destacar os principais sintomas neurológicos e psiquiátricos da Síndrome Pós-Covid:


● Alterações na memória;

● Instabilidade no humor;

● Confusão mental;

● Transtorno psicótico - quando há uma distorção da interpretação da realidade.

Conforme mencionado no início destas reflexões, a evolução da COVID-19 em cada organismo, apesar dos avanços da ciência, ainda é uma incógnita. Portanto, não é possível prever quais serão os sintomas durante a infecção e se seremos acometidos pela Síndrome Pós-Covid, sendo assim, cuidados preventivos devem ser tomados tanto para evitar contágio, quanto para cuidar da saúde física e também cuidar da saúde do cérebro.


Deste modo, além dos cuidados básicos preventivos como higienizar as mãos, usar máscara e respeitar o distanciamento social, você pode realizar atividades que estimulam a memória e as demais capacidades do cérebro, pois essa prática permite a manutenção da reserva cognitiva, que por sua vez, auxilia na proteção do cérebro contra situações que ameaçam a saúde cerebral.


Bibliografia consultada


ALNEFEESI, Y. et al. Impact of SARS-CoV-2 Infection on Cognitive Function: A Systematic Review. Frontiers in Psychiatry. v. 11, p. 1-11, 2021.


FELICE, F. G., et al. Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2(SARS-CoV-2) and the Central Nervous System. Trends in Neurosciences, v. 43, n. 6, p. 355-357, 2020.


ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Transtornos Mentais. Disponível em:<https://www.paho.org/pt/topicos/transtornos-mentais>. Acessado em 10 jun. 2021.


PROGRAMA RADIS DE COMUNICAÇÃO E SAÚDE. Dias que nunca terminam: sintomas persistentes relacionados à Síndrome Pós-Covid surpreendem pacientes e pesquisadores. RADIS: Comunicação e Saúde, n. 218, p. 26-31, nov. 2020.


TAQUET, M. et al. 6-month neurological and psychiatric outcomes in 236379 survivors of COVID-19: a retrospective cohort study using electronic health records. Lancet Psychiatry, v. 8, n. 5, p. 416–27, maio 2021.



ASSESSORIA DE IMPRENSA SUPERA. Especialistas caminham para identificar as sequelas da COVID-19 no cérebro. Disponível em:<https://metodosupera.com.br/especialistas-caminham-para-identificar-as-sequelas-da-covid-19-no-cerebro/>. Acessado em 10 jun. 2021.



Texto redigido por:


Gabriela dos Santos, Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Assessora científica.


Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.

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