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Além da medicação, qual outro tratamento pode ajudar a pessoa com Alzheimer e sua família?


*Profa. Dra. Gislaine Gil


A demência de Alzheimer é uma doença complexa e atualmente não existe cura. As abordagens atuais se concentram em ajudar as pessoas a manter a função cognitiva pelo maior período de tempo possível, gerenciar os sintomas comportamentais e desacelerar os sintomas da doença.


Vários medicamentos prescritos são atualmente aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para tratar pessoas que foram diagnosticadas com a doença, mas o foco de nossa conversa será o tratamento não-medicamentoso, conhecido como Reabilitação Cognitiva (RC).



A RC é um tipo de terapia que pode tornar o gerenciamento das atividades cotidianas mais fácil para as pessoas com Alzheimer em estágio inicial, mantendo a independência por um maior período de tempo e diminuindo a sobrecarga do cuidador.


A RC é feita sob medida para cada pessoa e é um processo colaborativo que envolve paciente, cuidador, família e terapeuta.


Nas primeiras sessões define-se os objetivos pessoais que devem ser realistas, ou seja, objetivos que a pessoa com Alzheimer consiga alcançar e ter sucesso na vida diária e, nas sessões seguintes, o terapeuta ajudará a planejar como cumprir esses objetivos, apoiando a pessoa com a doença e seu cuidador nesse processo.


O tipo de objetivo definido depende do que a pessoa deseja fazer. Algumas pessoas com Alzheimer desejam encontrar maneiras de permanecer independentes, por exemplo, aprendendo ou reaprendendo como usar eletrodomésticos ou telefones celulares. Alguns podem querer administrar melhor as tarefas diárias e trabalharão com o terapeuta no desenvolvimento de estratégias para evitar que queimem a comida ao preparar refeições ou retirar dinheiro com segurança de um caixa eletrônico. Podem querer manter na memória os nomes de netos e filhos ou mesmo conseguir ler artigos de jornais.


Seja qual for os objetivos definidos, os métodos utilizados para alcançar esses objetivos incluem o uso de adaptações e pistas ambientais, introdução de estratégias compensatórias e auxiliares de memória, habilidades de aprendizado procedimental e métodos para aprender ou reaprender informações relevantes.


O plano de reabilitação pessoal é colocado em prática ao longo de várias sessões, que podem ser realizadas no ambiente doméstico, para garantir que as mudanças sejam implementadas diretamente nas situações do dia a dia. Ao final de cada sessão o cuidador/familiar também recebe uma escuta atenta e é orientado em como lidar com a pessoa que ama com Alzheimer, minimizando sentimento de culpa e encontrando estratégias mais adaptáveis para enfrentar o dia-a-dia.


Um ensaio financiado pelo National Institutes of Health Research recrutou mais de 475 participantes com Alzheimer, sendo que, as descobertas desse ensaio inicial foram muito positivas, mostrando que as pessoas com demência eram mais capazes de atingir seus objetivos nas tarefas diárias quando realizavam a Reabilitação Cognitiva.



Referências Bibliográficas:

-Manthorpe, J. & Moniz-Cook, E. Timely Psychosocial Interventions in Dementia Care: evidence-based pratice. Chairperson of the European Working Group of People whith Dementia, Jessica Kingsley Publishers: London and Philadelphia, 2020.


-Clare L, Kudlicka A, Oyebode JR, Jones RW, Bayer A, Leroi I, Kopelman M, James IA, Culverwell A, Pool J, Brand A, Henderson C, Hoare Z, Knapp M, Morgan-Trimmer S, Burns A, Corbett A, Whitaker R, Woods B. Goal-oriented cognitive rehabilitation for early-stage Alzheimer's and related dementias: the GREAT RCT. Health Technol Assess. 2019 Mar;23(10):1-242.


-Gil, G. & Busse, A.L. Como lidar com problemas de memória e doenças degenerativas. São Paulo: editora Hogrefe, 2019.



*Profa. Dra. Gislaine Gil

Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, coordenadora do Programa Cérebro Ativo do Hospital Sírio Libanês e do Vigilantes da Memória. E membro do GRAZ (Grupo de Alzheimer).


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