Sou a Valésia, filha de um idoso de 82 anos, diagnosticado com Alzheimer. Gostaria de informações, atividades, dicas, que nos oriente sobre como lidar com essa doença!
Resposta por *Ceres Ferretti
“Cara Valésia,
Os cuidados com o paciente são fase – dependente. Dessa maneira, você deverá concentrar seus esforços de acordo com as orientações para as fases leve, moderada e grave da doença.
Cada uma delas apresenta dependências cognitivas, funcionais e, por vezes, alterações de comportamento bem marcadas. Cada paciente apresenta sua própria forma de evolução e é importante que você saiba que não há padrão de evolução para todos os pacientes. Cada caso é um caso e considerar isso é muito importante no momento em que, precisamos propor algum tipo de intervenção não farmacológica.
Na fase leve, o paciente costuma ter mais dependências para as atividades instrumentais de vida diária (AIVD), em que apresenta maior dificuldade na resolução de problemas mais complexos, no gerenciamento da própria vida civil e cotidiana, por exemplo. Já apresenta dificuldades com as finanças, controle bancário, esquece mais fatos recentes, pode se desorientar em espaços públicos e familiares (perder-se) e também apresentar quadros de depressão, especialmente quando é alertado pelo cuidador sobre algo errado que tenha feito. Na verdade, há um prejuízo de memória recente que o impede de registrar o “erro” citado pelo cuidador, por isso, pode se deprimir.
Cuidados: Os cuidados na fase leve devem estar focados nas dependências para as AIVD e também para a independência que o paciente ainda apresenta, neste momento, os estímulos devem ser dados, preferencialmente com a orientação de um profissional que trabalhe com reabilitação cognitiva. Quanto mais atividades, associadas ao uso da medicação prescrita pelo médico responsável, maior a resposta positiva às atividades propostas. É preciso também garantir a segurança da pessoa, já que se sair, poderá perder-se. Evitar que saia só, e as atividades domésticas, realizadas com supervisão.
Na fase intermediária ou moderada, podem surgir outras dependências e alterações de comportamento. As AIVD pioram e já existe necessidade de que outra pessoa realize as atividades de gerenciamento da própria vida – pagamento de contas, cozinhar, lidar com pequenos problemas do cotidiano além dos prejuízos observados nas atividades de lazer e hobbies que, anteriormente, eram executados sem dificuldade. O comportamento pode alterar-se e apresentar, delírios de roubo, agitação/agressividade, irritabilidade, labilidade de humor, ansiedade, desinibição, comportamento repetitivo, perambulação, entre outros. Inicia dependência para o autocuidado – atividade básica de vida diária – ABVD, Recusa o banho e outras atividades de asseio pessoal. Pode apresentar dupla incontinência – urinária e fecal, necessitando, muitas vezes, usar fraldas. As alterações de comportamento tornam-se menos intensas, mas ainda podem acontecer. Nesta fase, o paciente está totalmente dependente do seu cuidador.
Cuidados: As dificuldades com as tarefas diárias precisam ser estimuladas, orientadas, supervisionadas e auxiliadas apenas quando a pessoa não for mais capaz de realizar sozinha a tarefa. É possível que o cuidador precise terminar uma tarefa, mas, ele deve ter em mente que precisará dar um reforço positivo ao paciente como: “Ficou ótimo, você gostou?” ou “muito obrigada, não sei o que seria de mim se você não estivesse aqui!” Alterações de comportamento precisam ser trabalhadas com respeito e carinho, lembre-se de que para o paciente estas vivências são muito reais. O cuidador precisa buscar entender que o que parece proposital, não é e, então, evitar confrontos verbais. Dificuldade em aceitar o banho pode ser minimizada com a música preferida do paciente, leve para o banheiro um pequeno aparelho de som para tocar a música enquanto ele (a) toma seu banho.
Na fase grave, apresenta dependência total para as AIVD e inicia com dupla incontinência – urinária e fecal – o que poderá exigir o uso de fraldas. As alterações de comportamento são menos frequentes e a pessoa torna-se dependente total do cuidador para os cuidados integrais como: banho/asseio, continência, transferência, alimentação, vestuário e, muitas vezes, apresenta disfagia (dificuldade de deglutição) e afasia (dificuldade de comunicar-se verbalmente).
Cuidados: Estabelecer uma rotina de cuidados é a melhor maneira de o cuidador, conseguir dar conta de suas outras responsabilidades. O paciente deverá acordar relativamente cedo pela manhã (7:30-8:00), tomar o café, ser encaminhado ao banho (preferencialmente de chuveiro), adaptar vestuário de acordo com o clima, fazer pequena caminhada e tomar banho de sol, fazer 6 refeições diárias, sempre em pequena quantidade. Fraldas devem ser trocadas a cada 3h ou antes, se necessário.
O mais importante em tudo isso é a observação cuidadosa acerca das possíveis alterações que a pessoa possa apresentar. Alterações de comportamento são comuns na vigência de infecções do trato urinário, infecções respiratórias, desidratação, obstipação intestinal, mudanças no ambiente ou de cuidadores. Além disso, o carinho faz parte de todo cuidado, pense sempre o que VOCÊ gostaria que fosse feito para você, em uma situação como esta. A possibilidade de erro é praticamente nula!
Espero que tenha auxiliado de alguma maneira. Os cuidados são infinitos, abordei apenas alguns. Estou sempre por aqui à disposição!
Abraço grande!"
*Ceres Eloah Ferretti - enfermeira,
Pós-doutora em Neurologia pela FMUSP.
Doutora em Ciências e Mestra em Neurociências pela UNIFESP.
Pós-graduada em Gerontologia Social pelo Instituto Sedes Sapientiae,
Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento - GNCC, do HCFMUSP, colunista no Tudo sobre Alzheimer.
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