O que fazer quando a pessoa idosa com demência chama pelos seus familiares que faleceram?
É comum que pessoas acometidas por determinados tipos de demência, como a doença de Alzheimer, em fase mais moderada, pergunte ou queira contato com pessoas que já faleceram, acreditando que ainda estão vivas. Essa situação pode ser desafiadora tanto para cuidadores quanto para familiares, que precisam lidar com a percepção distorcida da realidade apresentada pela pessoa idosa com demência.
Apesar da dificuldade gerada pela situação, cuidadores e familiares devem adotar estratégias pautadas na compreensão e empatia, evitando assim, ocasionar maior estresse e sentimentos como tristeza, o que pode desencadear alterações comportamentais de agressividade ou apatia. Algumas estratégias costumam ser mais indicadas, porém é importante considerar o contexto, preferências e interesses de cada indivíduo. Além disso, outras medidas como administração adequada de tratamento medicamentoso e intervenções não farmacológicas, precisam estar sendo realizadas corretamente.
A seguir, descrevemos algumas estratégias recomendadas em situações como essa:
Acolhimento: é importante acolher a pessoa idosa e evitar tentar trazê-la para a realidade de forma repentina. Nesse sentido, perguntas como “Por que você quer falar com ele(a)?” ou respostas como “Fale mais sobre essa pessoa”, podem auxiliar no compartilhamento de memórias biográficas e gerar bem-estar emocional;
Justificativas de ausência: Muitas vezes é necessário justificar o motivo da pessoa não estar presente ou não ser possível contatá-la. Deste modo, justificativas relacionadas ao clima “está chovendo e não podemos ir até ele(a) agora”; trânsito “neste momento está muito trânsito, por isso ele(a) ainda não chegou e; viagem “ele(a) está viajando e vai demorar mais algumas semanas para voltar” ou “o sinal de telefone onde ele(a) está é ruim, por isso não conseguimos ligar”, podem ser eficazes;
Redirecionamento da atenção: pode ser útil redirecionar a atenção para atividades que a pessoa gosta ou que a tranquiliza. Ouvir músicas que despertam boas lembranças, manusear álbuns de fotos ou envolvê-la em conversas sobre experiências positivas podem ajudar a aliviar a ansiedade.
Muitas experiências que parecem individuais, são vivenciadas por outras pessoas, por isso, além da adoção de estratégias cotidianas, compartilhar os desafios com outros cuidadores e familiares pode ser benéfico, especialmente para a saúde mental do cuidador/familiar. Nesse sentido, existem grupos de apoio focados em pessoas que convivem com pessoas acometidas por demências, como a Associação Brasileira de Alzheimer.
A interação com esses grupos não apenas alivia o fardo emocional, mas também reforça a importância de uma abordagem colaborativa e informada no cuidado de pessoas com demência. Assim, a combinação de estratégias individuais e o apoio coletivo formam a base para um cuidado mais eficaz e humanizado.
Referência:
SCHIER-AKAMELU, R. How to Handle a Loved One With Dementia Asking About Dead Relatives. Aging and Care. c2024. Disponível em: https://www.agingcare.com/articles/parent-with-dementia-talks-to-dead-family-members-141131.htm#:~:text=Seeing%20someone%20with%20memory%20loss,and%20comforting%20way%20you%20can. Acesso em: 27 ago. 2024
Assinam este artigo:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. Membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH- USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
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